Como as concessionárias se reinventaram na pandemia e aderiram ao delivery de veículos

Segundo dados da Federação
Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a pandemia do
novo coronavírus derrubou em mais de 70% as vendas de veículos no Brasil. Com
apenas 55,7 mil veículos novos vendidos em abril, o mercado brasileiro
registrou o pior resultado mensal para o setor desde fevereiro de 1999. O
número só não foi ainda pior graças a quem se reinventou (ou já estava
preparado) para vender carros on-line, já que a maioria das lojas permaneceu
fechada nas primeiras semanas de isolamento social. De acordo com Cristiano
Dantas, diretor comercial da Tecnobank, as ferramentas que existem hoje
permitem a compra de um veículo do início ao fim do processo. "São
soluções digitais que dão mais segurança e rapidez às operações on-line e
comodidade a quem compra, já que é possível escolher, negociar, enviar a
documentação para análise do financiamento, dar a entrada e até receber o veículo
em casa", afirma.
Foi justamente assim que o
analista de logística Rodrigo Pedra, de 37 anos, escolheu um Fiat Punto
seminovo na concessionária Slaviero, no Paraná. “A única coisa que eu não
comprava on-line antes da pandemia era comida. Todo o resto era pela internet.
Em relação a carro, que é uma compra mais ocasional, eu costumava ir
pessoalmente escolher, levar documentação e buscar o veículo. Não imaginava que
era tão fácil e seguro comprar forma remota”, diz ele, que teve um veículo
roubado dias antes da pandemia no Brasil e buscou outro automóvel logo que foi
ressarcido pelo seguro. Depois de pesquisar pela internet e encontrar um carro
que lhe interessasse, Pedra entrou em contato com a loja pelo WhatsApp. Recebeu
mais fotos e detalhes, negociou tudo pelo telefone e pediu ao vendedor para
levar o veículo em sua casa para testar. Depois, enviou os documentos e teve a
aprovação do financiamento toda on-line.
Soluções digitais
O presidente do Sindicato dos
Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado do Paraná (Sincodiv-PR),
Marcos Ramos, diretor da Le Lac Peugeot, conta que o público paranaense já tem
uma familiaridade boa com ferramentas digitais, o que permitiu ao segmento uma
queda menos abrupta que o cenário nacional. As vendas ficaram em 45% do normal.
“Já faz algum tempo que o setor vem trabalhando on-line. O cliente pesquisa e
escolhe os veículos nos sites ou aplicativos, seja direto da montadora ou de
alguma concessionária ou revenda. Faz toda a compra e simulação de
financiamento pela internet. Só vai na loja entregar alguns documentos e pegar
o veículo. E nesta época de pandemia, foram vários documentos de clientes que
nós pegamos em casa e entregamos o carro em formato delivery”, afirma Ramos,
mostrando a criatividade e empreendedorismo no setor automotivo.
A professora Amandha Araújo, de
30 anos, sonhava com um carro novo e já tinha decidido por um Ford Ka. Isolada
em casa, conforme as orientações dos órgãos de saúde, resolveu pesquisar pela
internet. Acionou várias concessionárias, porém apenas uma lhe retornou o
contato. A loja fez um preço promocional e ofereceu toda a compra via remota.
Uma negociação que começou em uma segunda-feira, no sofá de casa, e terminou na
quarta, com o carro na garagem. “Comprar on-line foi muito mais fácil e rápido
do que uma compra presencial”, diz Amandha.
Mudança no perfil de consumo
As compras on-line também fizeram
mudar um pouco o perfil dos clientes. Luís Antônio Sebben, vice-presidente da Fenabrave e
diretor do grupo Slaviero, vendeu mais carros de alto valor nas últimas três
semanas. Foram dois Mustangs e várias caminhonetes, veículos de valores acima
de R$ 140 mil. As caminhonetes, que antes representavam 20% das vendas na concessionária,
já chegam a 40% do volume nos últimos dois meses.
“Não significa que não tivemos
propostas para veículos mais populares. Mas, como a inadimplência aumentou, os
bancos estão restringindo o crédito neste momento e, por isso, algumas
propostas não estão sendo aprovadas. Antes da pandemia, de cada 10 cadastros
que mandávamos para os bancos, quase todos eram aprovados. Agora, são cerca de
quatro para carros, dois para motos e cinco para caminhões. E isso prejudica,
porque de 70% a 80% dos veículos são financiados. Então, quem tem maior poder
aquisitivo tem aprovação do crédito com mais facilidade”, analisa Sebben, que
adotou todas as formas de vendas digitais possíveis para não perder vendas e
atender os clientes com mais conforto e segurança.
Compra segura
O diretor comercial da Tecnobank,
Cristiano Dantas, mostra que o brasileiro se habituou rapidamente às
plataformas digitais de vendas e negociações, fez transações de pagamentosdigitais e recebeu praticamente tudo em delivery, até mesmo carros. “Antes da
crise, estávamos vendo um movimento global de crescimento na demanda de
veículos. Aí veio a pandemia. Mas, em alguns locais, onde não houve um
isolamento imediato, as vendas continuaram na mesma velocidade. E onde teve, o
pessoal conseguiu se reinventar pelas plataformas digitais”, analisa.
Várias montadoras,
concessionárias e revendas disponibilizaram todas as descrições e fotos
possíveis dos veículos nos seus canais digitais, fossem sites de vendas ou
redes sociais. “O brasileiro teve que perder aquele costume de olhar
pessoalmente o carro para comprar. Passou a aceitar comprar um carro por
delivery, caso ele esteja em condições iguais ao que viu nas fotos”, ressalta
Cristiano. Ele também mostrou que a pandemia não mudou muito a forma de trabalhar
da Tecnobank, que já oferece soluções digitais para o segmento financeiro.
Autor: Redação TBK | Publicação:
17/07/2020